Para
José Maurício Caldeira da Asperbras Brasil, pacote fiscal anunciado pelo
governo, reforma tributária e adoção de regra que substitui teto de gastos pode
estimular economia
José Maurício Caldeira da Asperbras Brasil
A produção industrial de 2022,
divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra
que o setor ainda não conseguiu se recuperar plenamente desde a eclosão da Covid-19,
há três anos. O nível de atividade do segmento fechou o ano passado com queda
de 0,7% -- sexto percentual negativo em uma década – e continua abaixo do nível
pré-pandemia (-2,2%). “Os custos para produzir estão elevados, as cadeias
globais de produção ainda não estão totalmente normalizadas e os juros altos
inibem a retomada econômica”, afirma José Maurício Caldeira, sócio acionista da
Asperbras.
Na ponta positiva, merecem destaque
os produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+6,6%). Na ponta negativa,
ficaram a metalurgia (-5,0%), as indústrias extrativas (3,2%), produtos de
metal (-9,0%), além de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%). O
resultado negativo de 2022 vem depois de uma alta de 3,9% em 2021 e dois
recuos, -4,5% (2020) e -1,1% (2019).
Boa parte do crescimento de 2021, porém, se deve à
queda significativa de 2020, decorrente do início da pandemia. Ou seja, teve
influência da base baixa de comparação e não superou as perdas de 2020.
O resultado negativo da indústria
em 2022 impacta 2023. O ano começou em marcha lenta e terá a dominância da
política de juros altos do Banco Central. Em sua primeira reunião do ano, o Comitê
de Política Monetária (Copom) do BC manteve a Selic em 13,75% e sinalizou que a
taxa deve seguir elevada ao longo do ano por conta das pressões inflacionárias
e incertezas fiscais.
Com isso, a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) espera nova queda da produção
industrial, fechando em -0,5% em 2023. A Confederação Nacional da Indústria
(CNI) previu, em dezembro, crescimento de 0,8% do setor. A entidade ainda não
divulgou nova estimativa.
O ano de 2022 pode ser
dividido em dois momentos para a indústria: o primeiro semestre com o
desempenho positivo e o segundo, quando a atividade esfriou. Na primeira etapa,
as medidas para estimular a demanda lançadas pelo governo, como antecipação de
13º dos servidores e dos aposentados, a adoção de medidas de estímulo ao crédito, a liberação dos recursos do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), elevação do Auxílio-Brasil e o auxílio
concedido aos caminhoneiros influenciaram positivamente a economia. Contudo,
com o passar do tempo, seus efeitos se esgotaram e não sustentaram o
crescimento na segunda metade do ano.
Foi também no segundo semestre
que os juros altos começaram a impactar mais fortemente a atividade econômica.
“Os juros elevados inibem a produção e atingem, sobretudo, segmentos mais
sensíveis ao crédito, como automóveis, construção civil e linha branca”, diz José
Maurício Caldeira. “Se o varejo tem dificuldade em vender os bens, acaba fazendo
menos encomendas para a indústria, que termina por reduzir a produção, é um
ciclo”, explica o empresário. Neste quesito, o Brasil segue campeão, com a
maior taxa de juros real do mundo – a estimativa de inflação para em 2023,
segundo o Boletim Focus divulgado pelo BC, está em 5,79%.
A expectativa dos economistas
é que o primeiro semestre do ano ainda seja de aperto monetário no Brasil, o
que fará com que a indústria demore mais para retomar o patamar pré-pandemia.
No entanto, há no horizonte
possibilidades positivas que podem melhorar o cenário econômico ao longo do
ano. A ata do Copom, divulgada uma semana depois da reunião que manteve
inalterados os juros, afirmou que o
pacote fiscal anunciado no mês passado pelo ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, pode ter um efeito benigno para as expectativas de inflação.
Além disso, o governo já
estabeleceu como prioridade a aprovação de uma Reforma Tributária que dê mais
racionalidade ao sistema de cobrança de impostos, com a adoção de um Imposto
sobre o Valor Adicionado (IVA). A indústria de transformação, hoje, responde
por 30% da arrecadação de tributos, mas representa apenas 12% do Produto
Interno Bruto (PIB). Uma reforma que traga isonomia entre os segmentos
econômicos beneficiaria muito a indústria de transformação.
Por fim, um novo arcabouço fiscal, em substituição ao teto de gastos, deverá ser apresentado pelo governo ainda neste semestre. O ministro Haddad tem dito que o mecanismo terá credibilidade e será sustentável a longo prazo. Para ambas as agendas, as lideranças no Congresso Nacional já acenaram positivamente. “São pontos importantes que podem ser vetores positivos para impulsionar a atividade econômica”, conclui José Maurício Caldeira.