Se o campo era visto como uma área exclusivamente masculina, essa realidade começa a dar sinais de mudança. Cada vez mais, mulheres ocupam cargos de liderança em espaços estratégicos do agronegócio brasileiro, contemplando fazendas produtoras e fábricas de insumos para a agropecuária: atualmente, a força feminina encabeça 30 milhões de hectares no país, o equivalente a 8,5% da área ocupada no Brasil. Trata-se de um crescimento de 6% nos últimos 11 anos. Há ainda, contudo, um longo caminho a percorrer na busca por equidade de gênero no setor, com as demandas femininas ainda na busca de um lugar de protagonismo no mundo rural.
"A presença das mulheres no campo tem se intensificado de forma bastante expressiva", declara Jaqueline Casale, diretora comercial da Casale Equipamentos, empresa líder no segmento de equipamentos para alimentação de gado confinado e semiconfinado na América Latina. "Quando iniciei minha carreira no agronegócio, na faculdade de Zootecnia, eu era uma das poucas mulheres nos ambientes de negócios em que frequentava. Hoje em dia, me vejo acompanhada por mulheres brilhantes e inspiradoras."
Segundo levantamento recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que de cada dez cargos de liderança no agronegócio nacional, dois são ocupados por mulheres. Isso significa que, apesar dos fortes esforços do setor para valorizar a presença feminina nesses espaços, há ainda muito a conquistar na disputa por uma sociedade com mais igualdade de gênero.
"Um dos fatores que podem facilitar a entrada de mulheres na indústria do agro é a constante implementação de novas tecnologias, tendência marcante da agropecuária brasileira", opina Jaqueline, que atua há doze anos no mercado. "Se antes havia preconceito contra as mulheres no Agro, por serem consideradas 'frágeis' para a lida no campo', agora essa desculpa já não encontra qualquer razão de existir. Afinal, mulheres são igualmente capazes de operacionalizar tecnologias agropecuárias e gerenciar times, e é preciso incentivá-las cada vez mais a se integrarem no mercado, seja por exemplos ou novas políticas inclusivas no mercado de trabalho."
As mulheres já lideram 31% das propriedades rurais brasileiras, segundo levantamento da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag). É um número apenas ligeiramente abaixo da média nacional que diz respeito às mulheres presentes em cargos de gerência no mercado de forma geral: em 2019, o IBGE estipulou que 38% dos cargos gerenciais do Brasil eram encabeçados por mulheres.
As vantagens que envolvem as lideranças femininas já são conhecidas por todos: o aumento da equidade de gênero implica numa sociedade mais justa e democrática, com papéis mais bem distribuídos e salários mais justos para todos. Além disso, estudos revelam que mulheres tendem a ser líderes melhores durante momentos de crise: de acordo com uma pesquisa recente publicada pela Harvard Business Review, concluiu-se que mulheres em cargos de liderança mostraram mais eficiência durante a crise pandêmica que afetou praticamente todas as empresas, ao apresentarem mais resultados positivos e contribuírem de maneira mais expressiva para o engajamento dos trabalhadores e trabalhadoras.
A inserção de mulheres em cargos de liderança é algo que tem contribuído muito para a diversidade de ideias, perspectivas e iniciativas na condução dos negócios. Na indústria da agropecuária, isso não é diferente. "Acredito que onde todos pensam igual, todos saem perdendo, tanto em resultados quanto em convivência. As diferentes visões de mundo, sensibilidades e experiências das mulheres são essenciais para qualquer negócio. Em especial em segmentos como o da agropecuária em que muitos pensam que se trata de um ambiente destinado aos homens. É justamente neles que a maior presença feminina trará um maior impacto no seu processo de transformação. ", opina Mario Casale, CEO da companhia.
"As mulheres são estimuladas desde cedo a serem multidisciplinares e multitarefas. É como se tivéssemos vários braços, um cuidando de cada aspecto diferente da vida: trabalho, família, gestão da casa etc. Além disso, somos condicionadas a adotar posturas mais flexíveis, de melhor negociação, e temos mais recursos emocionais e comunicativos. As chamadas soft skills, que recentemente entraram no jargão corporativo, já eram trabalhadas por nós mulheres há muito tempo, e agora vemos o valor de tudo isso", pontua Jaqueline.