Carta aberta a Clarissa Garotinho
Clarissa,
Não tenho nenhuma simpatia pelo seu pai Garotinho, muito pelo contrário, acho abominável a forma desrespeitosa que ela usa para tratar as pessoas que ousam interferir nos seus planos.
Não foi uma e nem duas vezes em que ele publicamente chamou os seus adversários de bandidos. No início da sua trajetória política, você ainda era bem pequeninha, ofendeu publicamente a professora Ivete Marins, então vereadora pelo PT, chamando-a de “ordinária”.
Não faz tanto tempo, disso você há de se lembrar, fez do programa Entrevista Coletiva um Tribunal de Exceção onde em todos os sábados, após exibir áudios que estavam sob sigilo de justiça, sentenciava e condenava cada um dos presos da operação “Telhado de Vidro”. Não transparecia nenhuma preocupação com os filhos e com as famílias dos presos.
Apesar de tudo isso, as cenas exibidas da transferência de Garotinho para o presídio são chocantes e patéticas. Chocantes, porque mostram o seu desespero real e o de sua mãe. Patética, porque exibe um Garotinho furioso, mas ao mesmo tempo abatido, derrotado, humilhado e sem a altivez, a firmeza e a determinação ostentada pelos que sabem que estão sendo injustamente presos.
A tentativa de reagir e impedir a sua remoção para o presídio, veio do desespero de quem jamais imaginava ser preso, não por ser inocente, mas sim por se julgar acima de tudo e de todos.
Uma cena e um áudio não saem da minha lembrança, é a que te mostra chorando e bradando que o seu pai não é bandido.
Clarissa, você tem razão. Assim como para você, para os filhos do Eduardo Cunha, do Lula, do José Dirceu, do Cabral, do Alex e do Palocci, para ficar só nesses, os pais deles também não são. Pelo menos, levando-se em conta o sentido restrito do termo bandido empregado para adjetivar aqueles que atentam contra o patrimônio privado das pessoas.
Clarissa, lamento muito te desapontar, mas bandidos também são os que se apropriam da coisa pública, como se ela não tivesse dono, apenas porque é pública. Ledo engano, cara Deputada, o que é público é tão meu e seu quanto o que é seu e meu.
Dizem que o seu pai foi preso por ter dado comida para os pobres. Sabemos que isso não é verdade. Ninguém é preso por dar comida aos pobres. Lembra-se do Betinho, o irmão do Henfil? Então! Ele foi brasileiro que talvez mais comida tenha dado aos pobres e ninguém o prendeu por isso. Sabe por quê? Porque ele não usou verba pública. Ele não trocou a comida pelo voto. Ele nunca usou a pobreza como projeto e meio de angariar e manter o poder.
Seu pai está preso, Clarissa, porque usou a pobreza do povo para tentar fraudar a eleição. Não satisfeito, pego com a “boca na botija”, destruiu provas, coagiu testemunhas, interferiu como pôde no Poder Legislativo, dando ordem ao seu Presidente, que deveria ter a coragem de não se submeter, mas não, aceitava e ainda pedia conselhos.
Não foi o Delegado, o Juiz ou o Promotor que forjaram estes fatos. Estes fatos foram ditos pelas testemunhas ouvidas e gravados pelas escutas telefônicas recentemente divulgadas.
Porém, Clarissa, não me regozijo e nem brindo as cenas lamentáveis a que assistimos, acho-as desnecessárias e incompatíveis com o princípio da dignidade da pessoa humana e com as regras que devem sustentar o Estado Democrático de Direito.
Infelizmente é assim. As sociedades mudam e quando mudam acabam produzindo estes episódios de intolerância. Foi assim na Revolução Francesa, como também foi assim na Revolução Cubana, e assim penso que sempre vai ser quando o cidadão comum percebe que, a partir de um dado momento, o que vale para ele passa a valer também para os que estão acima dele.
Clarissa, tenha força e aprenda a lição. O Brasil está mudando, aproveite e mude também.
(Postagem do professor e advogado Luís Vitor Monteiro Alves, em sua página do Facebook.)